Foi ao ar ontem (03) uma das coisas mais absurdas da história da TV nacional. Gugu Liberatoresolveu mexer com o corpo de Dercy Gonçalves, que faleceu em 2008 aos 101 anos após se destacar como uma das maiores humoristas do país com seu jeito desbocado e cativante.
O animador, em seu retorno ao ar, tinha como propósito descobrir se a artista realmente foi enterrada em pé, como desejava. Passou a primeira hora e meia da atração com esse questionamento. Julinho do Carmo, cabeleireiro que se tornou amigo dela, Decimar Martins Senra, sua filha, outras pessoas próximas e a população de Santa Maria Madalena, onde Dercy nasceu e foi enterrada, foram perguntadas a respeito.
O problema é que isso não ficou restrito às palavras. O mausoléu construído por Gonçalves foi aberto para que Gugu visse com seus próprios olhos em que posição estava o caixão da profissional. Após todo o esforço do pessoal do cemitério local, foi constatado que Dercy não teve seu desejo respeitado. Depois do caixão ser colocado na posição vertical (no enterro), optou-se por deixá-lo na horizontal.
A questão é: qual a necessidade disso? Pra que mexer com quem descansa e deveria estar em paz? Será possível que uma pessoa não pode ter esse direito nem após a morte? Sim, Dercy Gonçalves merece muitas homenagens. É justo que após anos de parceria Julinho tenha um espaço em homenagem a ela e bacana que vídeos inéditos como o do programa que não foi ao ar sejam exibidos, assim como foi bonitinho vê-la pedindo uma chance a Silvio Santos.
Da mesma forma, ok para fazer barulho em torno de Dercy estar ou não enterrada em pé. Porém, quando Gugu se sujeita a desenterrá-la, ele prova que entrevistar criminosos não é suficiente. Por audiência, vale tudo, até ter um comportamento no mesmo nível da entrevista falsa com “integrantes do PCC”, que até hoje mancha sua trajetória.
O animador nunca vai conseguir se livrar disso por evidenciar que não mudou. Joga sujo porque o que vale é vencer o Ratinho, ou, quem sabe, superar a Globo. Enfim, ele prova que, quando pensamos que a TV já atingiu o fundo do poço, ainda é possível cavar mais um pouco.
Cabe lamentar, reclamar é em vão. Se já vimos o citado caso do PCC, pessoas deformadas no “Programa do Ratinho”, sushi erótico no Faustão e porcos sendo masturbados na faixa vesperina no “Tá na Tela”, é daí pra pior. Na TV brasileira, a censura só vale para a dramaturgia. Fora isso, tudo é possível.
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